O clima e o tempo não são a mesma coisa, e no mundo do vinho isso faz uma grande diferença. Você sabe qual a diferença? Já percebeu como o clima influência na característica de um vinho? Já viu que o tempo é um dos maiores medos dos enólogos?
Aí você deve está se perguntando porque “raios” eu resolvi falar de clima e tempo no mundo dos vinhos, afinal você só quer beber um bom vinho. Mas eu já explico que é importante entender o básico do básico nesse assunto para que você saiba exatamente qual o vinho que irá comprar e lhe agradar.
O clima se refere a condição de uma região durante um longo período, aqui dizemos o ano da produção do vinho. Ou seja, como se comporta a região durante seus 12 meses do ano, incluindo as diferenças entre cada estação, assim como temperaturas, precipitações, ventos e pressão do ar. Então essa definição é bem fácil, já que ano a ano ela praticamente deveria se comportar igual. Entendemos que nos últimos anos com o aquecimento global tem ocorrido mudanças, mas são lentas e ocorrerá uma percepção de alteração no mundo do vinho somente depois de longos anos. E os enólogos já tem uma previsão de como seguirá nos próximos dias suas terras.
OS CLIMAS NO MUNDO DO VINHO:
CONTINENTAL: ocorre uma maior diferença de temperatura entre os meses mais frios e os mais quentes. Os verões podem ser excessivamente quentes, precisando de irrigação. E os invernos rigorosos com muita neve. Os vinhos terão acidez mais alta, menos corpo, fruta menos madura e álcool mais baixo.
MARÍTIMO: as temperaturas são frescas e mais moderadas e apresenta uma diferença pouco acentuada durante todo o ano. Precipitações são normais durante as quatro estações, e sofre influência marítima de ventos. O resultado serão vinhos com corpo médio, taninos maduros, álcool médio e acidez baixa.
MEDITERRÂNEO: as temperaturas também apresentam pouca diferença durante o ano, mas o calor e a luz solar é mais intenso que no marítimo. Como consequência teremos vinhos com mais corpo, taninos mais maduros, álcool mais alto e acidez mais baixa.
Claro que existem muitos mais detalhes sobre o clima no mundo do vinho, mas aqui deixo apenas uma ideia de como identificá-lo de uma forma geral.
Quando falamos de tempo o cenário muda um pouco, e aí é a preocupação nos enólogos. Aqui a mudança é momentânea, ocorre muitas vezes sem nenhum aviso prévio. São chuvas fora de época, granizo em áreas que nunca teve, secas inexplicáveis entre muitos outros fenômenos da natureza que deixam os enólogos sempre de cabeça virada para o céu para acompanhar o que está por vim.
Esse ano o fenômeno El Niño mostrou sua força no mundo do vinho. Alterou bastante o tempo em muitas regiões produtoras de vinhos, e as consequências não foram das melhores. Ok, já se esperava o famoso El Niño, está escrito nos livros de estudos de vinho quais as mudanças mais normais esperadas, como por exemplo precipitação acima da média no Chile, mas nunca se sabe exatamente o quanto ele influenciará e foi assim. Boa parte dos produtores perderam suas uvas no último mês. Alguns optaram por fazer uma colheita rápida mesmo sem a maturação plena de algumas castas, e outros deixaram seus cachos pendurados. O que se comenta entre os chilenos é que pelo menos 30% da produção 2016 foi perdida.
Outro fato que ocorreu recentemente foi o de Borgonha. Que surpreendeu o mundo com lindas fotos, mas que representava um desespero para os produtores. Um frio excessivo – geada – na primavera, época de brotação de suas vinhas não é normal, e a consequência foram muitas vinhas perdidas É incomum para um evento de tempo como este para afetar uma área tão vasta. São vinhas de Chablis, Grand Auxerrois, Côte de Nuits, Côte de Beaune, e Côte Chalonnaise . Assim como correu em Champagne e em Cote do Rhone.
É preciso criar pontos como “fogueiras” para aquecer o ar e não deixar que congelem as vinhas que estão começando a brotar. Mas quando não é possível, se percebe a perda com o congelamento da vinha.
“Mãe Natureza decide; temos que viver com isso e este é o risco de nosso trabalho. ‘Mas também é um trabalho de paixão, e é uma grande decepção para ver todos os nossos esforços para fazer o melhor a fazer grandes vinhos reduzida a zero em uma noite. “
“Até agora, sabemos que na aldeia de Pommard, 80% dos vinhedos denominação regional foram afetados”. ‘Os crus também são danificados e já sabemos que as quantidades para a vinda do vintage será muito pequeno.’ Caroline Parent-Gros para Revista Decanter.
Então no final de um ano do vinho, podemos dizer se aquele ano terá um safra espetacular ou medíocre. Não definido pelo clima, mas sim pelas quatro estações daquela safra. E muitas vezes o que se parece perdido mesmo na época de brotação poderá ser um ano de bons vinhos, assim como um ano perfeito poderá ser detonado por uma chuva inesperada nas últimas semanas de colheita. A verdade é que nada está decidido até o vinho está em suas garrafas.