Brunello di Montalcino Baricci 85 na Minha Taça!

E vamos a mais um Minha Taça! E dessa vez é especial! Eu tomei o Brunello di Montalcino Barrici – Safra 1985! Ou seja, estamos falando de 30 anos de garrafa!

A primeira vez que eu falei desse vinho foi em um vídeo no meu canal no Youtube AQUI. Eu explico exatamente a importância  da safra e os vinhos que comprei na minha última viagem a Toscana. E esse foi o vinho mais especial da viagem! Claro que existem outros maravilhosos Brunellos, mas em uma categoria de qualidade, preço e safra esse foi um excelente presente dessa viagem!

Postei no meu instagram e no snapchat fotos e vídeos do vinho no dia que abri, e algumas pessoas me perguntaram que dava mesmo para esperar 30 anos, e eu respondo agora minha mais sincera opinião! Esse vinho poderia esperar até 60 anos, acredite!!! Inicialmente duvidei um pouco, pesquisei bastante e sempre a sugestão era que um Barrici de ano excepcional – leia-se 5 estrelas – poderia ser consumido entre 50 – 60 anos sem problema, assim como o Brunello di Montalcino Banfi poderia chegar aos 100 anos facilmente. E tudo isso parece um pouco loucura, mas não é! São vinhos para uma vida!

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Eu trouxe esse vinho em agosto de 2015 ao Brasil. Um pouco receosa, pois fazia muito calor na Europa, viajamos de carro para a Toscana, e a garrafa ali junto. Pensei sinceramente que o vinho sofreria muito e não teria uma grata surpresa ao chegar no Brasil. Mas eu cuidei bem da garrafa. Deixei 8 meses na minha adega com uma temperatura controlada, mexi poucas vezes na garrafa… E foi agora no meu aniversário que resolvi abrir a garrafa!

RITUAL PARA ABRIR O VINHO:

O ideal é você ter um saca-rolha de pinça em casos de vinhos de safras muito antigas. Se a rolha estiver completamente molhada será preciso muito cuidado ao retirá-la. Minha sorte é que a rolha estava perfeita! E se percebe pelo estágio que o vinho atingiu a rolha que ainda tínhamos 30 anos pela frente. Como assim? Ela atingiu exatamente a metade com 30 anos e faltava a outra metade que poderia levar esse mesmo total de anos. Entendeu?! Qualidade  rolha é importante demais nesse tipo de vinho.

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Como eu não tinha problema com a rolha, usei o saca-rolha normal. E lentamente retirei da garrafa e deixei o vinho descansar na mesa. Não decantei! Nada de tirar o vinho da garrafa. Fui instruída em Montalcino a deixar a garrafa aberta até 6 horas antes do serviço, e foi o que fiz! Abri o vinho as 4 horas da tarde.

Como o clima estava muito quente, aqui batia os 30 graus, eu optei manter o vinho sempre com uma manta térmica para que a temperatura não subisse demais. Eu trocava a manta a cada hora mais ou menos. Sim é um ritual! Não é apenas abrir o vinho… É curtir cada passo, cada momento. E ao mesmo tempo eu provava um pouco do vinho para perceber a evolução na taça.

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EVOLUÇÃO NA TAÇA:

Um vinho de guarda pede tempo… Tempo para abrir a garrafa, tempo para prepara o vinho e tempo para degustá-lo. Cada ano que você espera aquele vinho pode te apresentar mais bouquet, mais características, evolução… E na hora de degustar essas  características também evoluem.

A primeira taça ao abrir a garrafa eu logo percebi um bouquet maravilhoso. Bosque, cogumelos, folhas molhadas… Mas tudo ainda um pouco forte demais, desequilibrado assim como na boca. Álcool muito aparente e acidez gritante. Mas eu estava radiante que o vinho estava maravilhoso! E não oxidado que era o meu maior medo.

Algumas horas depois o vinho começa apresentar um bouquet mais harmonioso. Surgem frutas vermelhas silvestres e o cogumelo persiste. E foi aí que comecei a preparar um belo risotto de funghi – trouxe da Itália – para harmonizar.

O vinho pede carnes vermelhas, pratos suculentos, e o cogumelo está entre os ingredientes da harmonização. Conclusão: para quem não come carne vermelha esse é o ingrediente chave da harmonização! Funghi porcini secchi!

HORA DE TOMAR O VINHO:

8 horas da noite: Primeira taça oficial! 4 horas após o início da decantação. Ainda com a manta térmica e agora é a hora de abandoná-la. O vinho precisa ser servido por volta das 18 – 20 graus. Com tantos anos esse vinho pede uma temperatura mais alta para podermos perceber todas as suas características. Nesse momento os taninos ainda secam um pouco a boca, mas de forma elegante. A acidez é alta e equilibrada. O bouquet segue o mesmo e na boca descubro o chocolate.

9 horas da noite: Resolvi decantá-lo para acelerar as 6 horas de decantação solicitadas e também para a possível borra do vinho. E a surpresa é que quase não havia borra. O vinho apresenta uma coloração já bem avançada mostrando seus anos – âmbar. E chegou a hora de degustar toda a garrafa.

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HARMONIZAÇÃO:

Risoto pronto juntamente com a hora exata de apreciar o vinho. Equilíbrio nos sabores total! Antes do risotto fizemos lascas de Parmigiano Reggiano com um leve fio de Crema di Balsamico al Tartufo. E foi delicioso! Perfeito demais! O sabor do queijo cremoso com o tartufo já é divino, e com um vinho que remete exatamente a esse mundo do bosque e sabores intensos foi dos deuses.

Com o risotto não foi diferente. Como já disse um equilíbrio perfeito. O prato não sobressaiu o vinho e vice versa. Harmonização plena! O vinho deixou mais boca ainda… Encontrei as frutas vermelhas de bosque, cogumelos, tabaco e ameixas pretas. Que espetáculo!

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CONCLUSÃO:

Escutei de pelo menos dois colecionadores em Montalcino que esse vinho poderia ser aberto de um dia para o outro. Mas eu no meu humilde conhecimento não quis arriscar. O vinho pode simplesmente morrer enquanto você decanta, e é por isso que provamos de hora em hora quando não conhecemos o vinho. Imagina deixar de um dia para o outro. Inviável! Além do mais escutar essas informações de senhores moradores da cidade não demostrava credibilidade suficiente para tal atitude. Optei pelas 5 – 6 horas de decantação.

Concluo que esses senhores sabem muito mais do que qualquer um de nós profissionais. Eles vivem esse mundo, eles cresceram tomando esses vinhos, sabem cada evolução, cada detalhe… Conhecem o vento, o sol e as suas garrafas! E falo isso porque deixei uma pequena quantidade, talvez não chegasse a 20ml de vinho no decanter para o dia seguinte. E a verdade é que estava riquíssimo em bouquet e na boca ainda totalmente equilibrado.

Ganhei forças para deixar meus outros Brunellos guardados por mais alguns bons anos na adega.