Se tem uma coisa que há anos repito a todos que me perguntam o que quer dizer o nome “reservado” nos rótulos é: Reservado para os bobões do Brasil. Peço desculpas a todos os brasileiros por chamá-los de bobões, mas também me incluo nesse lista, afinal sou brasileira. E vou explicar melhor o porquê.
Certamente muitas pessoas compram o vinho pelo rótulo, e nomes bonitinhos, desenhos e alto relevo são detalhes que sabemos que ajudam na venda. E foi pensando nisso que vinícolas passaram a usar termos inexistentes, leiam bem, INEXISTENTES no mundo do vinho. Vamos com calma…
A classificação RESERVA existe, e é diferente de cada região ou país (leia as principais classificações no final dessa matéria). Mas países como Chile e Argentina que usam o termo não têm uma classificação legal para tal. Claro que boas vinícolas desses países classificam seus vinhos conforme o estágio em barrica, melhores vinhedos, safras boas, e já tentaram legislações locais para regularizar o nome, mas infelizmente não parecem ter chegado a um acordo em comum e até hoje não recebemos nada oficial quanto ao nome Reserva no Novo Mundo.
E foi pensando assim que algumas vinícolas começaram a retirar de seus rótulos o nome Reserva! Foi o que falei ontem do Luigi Bosca por aqui no blog. E existem outras vinícolas no mesmo pensamento. Mesmo assim, eu aceito bem vinhos com nome reserva ou gran reserva vindo desses países. Acredito que a seriedade de alguns produtores pode realmente apresentar vinhos com estágio em carvalho, melhores colheitas e capazes de sustentar o nome que talvez signifique que está acima da linha clássica.
Mas e o tal Reservado? Minha resposta é marketing! Um nome no rótulo que leva leigos a acreditarem que se trata de algo até mesmo acima de Reserva, acredite! Já escutei diversas vezes essa definição de alguns clientes e amigos. Mas ela não tem valor nenhum! O vinho não tem legislação que controle sua qualidade, vinhedos ou mesmo processo de amadurecimento. O nome Reservado é apenas um rótulo da vinícola. Nada além disso! Não existe nem esse nome na Espanha ou em Portugal como achei escrito em alguns blogs por aí… Não confundam RESERVA com RESERVADO. OK?!
Sabe porque falo Reservado para os bobões dos brasileiros? Porque nós também não temos legislação quanto a isso no Brasil, e ainda permitimos a importação de rótulos com informações sem sentido. Os países Europeus não admitem a importação de rótulos fora da legislação e exigem que sejam adaptados as suas normas. Acho que está na hora do Brasil começar a regularizar as normativas por aqui e sim exigir que produtos importados também venham com a “verdade” em seus rótulos.
Então vamos explicar como funciona as classificações nos países europeus.
RESERVA: na Espanha e em Portugal o nome RESERVA distingue os vinhos de uma boa colheita. Sendo que em Portugal além de ser de uma boa colheita, o teor alcoólico do vinho está 0,5% acima do mínimo da região. Já na Espanha o termo RESERVA no rótulo exige um estácio de no mínimo 3 anos entre barricas e garrafa, sendo necessário no mínimo 12 meses em barricas. E o vinho não pode ser comercializado antes de 4 anos da colheita descrita no rótulo. Sendo que os brancos ganham um desconto de 1 ano nesse estágio entre barricas e garrafa, e consequentemente de todo esse período também exige-se apenas 6 meses no carvalho.
RESERVE: um nome utilizado para distinquir vinhos de mais qualidade, mas diferente do termo RESERVA ou RISERVA. O termo americano tem menos controle. E alguns produtores adicionam outros nomes juntos como ESTATE RESERVE ou PRIVATE RESERVE.
RÉSERVE: termo utilizado em muitos Champagnes e que tem controle forte para quem utiliza por exemplo Cuvée de Réserve. Normalmente o nome Réserve são os vinhos bases de Champagne que serão utilizado em outros anos futuros para produzir Champagnes não safrados.
RISERVA: utilizado na Itália para seus vinhos quando passam um tempo em envelhecimento antes de ser comercializado. Além disso os vinhos também atingiram um teor alcóolico de 0.5 ou 1% acima da média. O período nas barricas não precisa ser longo em alguns vinhos, e nem todos necessitam um estágio em madeira, é o caso dos Chianti Classico Riserva.
GRAN RESERVA: termo utilizado na Espanha para vinhos que devem permanecer em contato com o carvalho por um período que muda de DO para DO (Denominação de Origem). Na Rioja e na Ribeira del Duero esse estágio seriam de 2 anos em barricas mais 3 anos de garrafa, e somente no sexto ano o vinho deixaria a vinícola para ser comercializado.
Essas normativas são utilizadas na Europa e copiada por alguns produtores do Novo Mundo, mas infelizmente sem a força de uma legislação e comissão de controle do uso correto dos nomes.
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